Zunica promove conexão entre um ateu e o Criador em “As Formigas Pensam na Vida”

Um homem está à espera de um amigo em um bar. O convidado, porém, não aparece, nem mesmo avisa o que ocorreu nas horas seguintes. De um dia para o outro, apenas some. O protagonista, que não é nomeado, vai ao escritório onde o outro trabalha na tentativa de descobrir seu paradeiro e se surpreende com a resposta dos funcionários do local: ninguém o conhece.

No enredo de As Formigas Pensam na Vida, o escritor Francisco Zunica Dias percorre várias teorias. O amigo, chamado Soão, poderia ter sido abduzido? Existiriam vidas em outros planetas? Se sim, qual seria o interesse dessas espécies em um humano qualquer? Essas perguntas envolvem a mente do personagem principal, que precisa confrontar uma de suas maiores crenças. Ateu, ele não acredita que divindades são reais.

Suas convicções, entretanto, caem por terra quando se depara com o Criador. Os dois mantêm diálogos constantes, e o protagonista desconfia de sua relação com o também denominado “Grande Ele”. Apesar disso, o ser divino dá conselhos e levanta reflexões sobre a existência.

Aos poucos, o personagem descobre o que ocorreu com o amigo. Entre mistérios inexplicáveis da humanidade, teorias matemáticas e provas concretas, ele questiona tudo aquilo que acredita. “Quero fazer o leitor pensar numa possibilidade numérica para o mundo e que talvez não estejamos sozinhos no universo”, comenta Zunica. É um convite para o público perceber que, assim como as formigas, os seres humanos também podem parecer espécies pequenas quando comparadas a outras possibilidades de vida no universo.

Nascido na capital de São Paulo, Francisco Zunica Dias mora em Peruíbe, na região metropolitana da Baixada Santista. Aos 63 anos, começou a investir na carreira de autor e escreveu o livro As Formigas Pensam na Vida, uma nova forma de perceber o mundo e de buscar uma sequência lógica para uma realidade subjetiva – o que se tornou um compromisso pessoal. Confira a entrevista!

Poderia compartilhar mais detalhes sobre a inspiração e o processo de criação da trama de “As formigas Pensam na Vida”? Qual foi a ideia inicial que deu origem a história e como você desenvolveu os personagens e a trama ao longo do tempo?

Antes, eu tinha os números e os códigos, mas precisava uma maneira de apresentá-los. Daí surgiu a necessidade de criar uma história que foi pensada a partir da dualidade entre a religião e a fé versus ciência e o ceticismo. Essa discussão seria levada a um empate. Quanto aos personagens, cada um carrega uma parte de mim. Homem cético fui apresentado ao Criador. Ávido pelo conhecimento, busquei em outras crenças algo que eu já sabia, mas que ficou no esquecimento.

Em seu livro, o personagem principal passa por uma jornada de questionamento de suas crenças. Você acredita que a arte pode ser uma ferramenta para provocar esse tipo de reflexão nos leitores?

Toda arte é transformação porque modifica as pessoas e enaltece sua sensibilidade. Hoje em dia, de que adianta mil palavras sem um bom argumento? A agudez do escritor é um caminho com vários sentidos que levam a um único desfecho, mas quem fecha o livro é o leitor.

O livro aborda temas como abdução alienígena e a possibilidade de vida em outros planetas. Você é um entusiasta de ficção científica? Se sim, quais são seus autores ou obras favoritas?

O primeiro e revolucionário para o seu tempo, para mim, foi Júlio Verne. Depois Isaac Asimov e, por último, o memorável Arthur Clarke com a sua obra “Os nove trilhões de nomes de Deus”.

Apesar de seu livro se tratar de uma ficção, ele naturalmente traz alguns elementos que são realistas, como o inicio de trama, onde um amigo espera o outro em um bar. Quais são as principais dificuldades de se escrever sobre esse gênero e como medir até onde pode chegar uma ficção?

A ficção só pede uma coisa, que é a criatividade para desvendar o desconhecido mesmo que esse desconhecido esteja dentro de uma caixa de fósforos. Como dizem os amantes: a espera é sempre um tormento. Alguns começam um livro com a maré baixa, eu prefiro a tempestade. Para mim, o melhor divisor é sempre uma pessoa ausente, porque todos nós já esperamos por alguém ao menos uma vez na vida. A melhor ficção é aquela que mistura realidade com fantasia e quem decide os seus limites é a imaginação.

Zunica (Foto: Divulgação)

Durante a narrativa, o seu personagem é posto em diversas teorias sobre o que poderia ter ocorrido com seu amigo, chegando até a abdução por alienígenas e o questionamento de vida em outros planetas. Tal tema chega a fazer levianamente referências ao estudo da ufologia, além de religião. O que o levou a querer explorar essa temática?

Não existe religião de um só homem quando ele busca o seu autoconhecimento. O tema controverso da ufologia deixa em aberto a possibilidade de uma comunicação matemática, porque essa é a mais racional. Temas diferentes, é verdade, mas ambos nos fazem olhar para o céu. Seja na procura ou na adoração, sempre olharemos para o infinito procurando respostas.

Justamente por começar a seguir suas crenças, o protagonista que era Ateu, não acreditando em divindades, acaba indo se deparar com o Criador mantendo diálogos constantes. Como foi promover essa “quebra” junto ao seu personagem?

R: Foi algo que aconteceu comigo. Por motivos pessoais, perdi a fé. Homem livre, ganhei em questionamentos, porque tinha toda a liberdade para pensar, mas como diz o poeta: a razão termina quando se fecha a porta. Caminhando entre dois mundos, alguém me apresentou a uma força divina, a qual passei a chamá-lo de o “Grande Ele”. Perguntei e Ele respondeu, e assim começou a nossa amizade.

Durante os diálogos que seu livro promove, o protagonista passa a desconfiar de sua relação com o denominado “Grande Ele”, e apesar disso o ser divino abre reflexões sobre existência. Em meio a esse desenrolar de acontecimentos, qual é a principal mensagem que o objetivou a escrever esse livro?

No começo, foi sobre como mostrar a existência de uma sequência lógica que determina os fatos que ainda vão acontecer, mas depois percebi que isso não interessa. O objetivo do jogo não é saber quem é o vencedor, mas, sim, a emoção da partida. Acredito que ninguém iria a um estádio de futebol sabendo do resultado. Pensando nisso, tirei algumas coisas e resolvi falar sobre o “altíssimo”, porque, no fim, Ele é o único que ouve as nossas orações.

Como falamos um pouco nas perguntas anteriores, um dos principais questionamentos da obra, é o relacionado ao fato de não estarmos sozinhos no mundo e que assim como as formigas, os humanos também podem parecer espécies pequenas. Na sua opinião, o que leva o ser humano a descrença a respeito das outras vidas? (Religião, ignorância…)

O fator principal é o medo. Temos pavor daquilo que não compreendemos e, mesmo tendo os avistamentos, encobrimos tudo com nuvens. Agora é tarde e já sabemos que não estamos mais sozinhos. A diferença é que ainda podemos escolher quem gostaríamos de ter como companhia na busca da informação. O principal ser alienígena somos nós, que viemos da água, porque ela não existia nesse planeta. Pensando nisso, quem realmente está lá fora?

Desde os seus 63 anos, você passou a se dedicar ao desenvolvimento do seu livro como uma forma de perceber o mundo e buscar uma sequência lógica para a realidade subjetiva que vivemos, o que veio a se tornar um compromisso pessoal. O que o fez assumir essa missão?

Não diria missão, mas a salvação de mim mesmo, porque, através do livro, vi coisas que nunca mais esquecerei na vida e ainda levo comigo a certeza de que existe algo maior.

Como autor, o que a experiência de criar e escrever “As Formigas Pensam na Vida” representou na sua carreira? Da mesma forma que induz os leitores a refletirem, escrever também o fez sentir impacto?

Representou a dúvida da escrita, porque tenho uma vida diferente, como a do pensador que pede a solidão quando estou no meio da multidão. O estranho é que as melhores ideias para escrever o livro vinham na minha mente quando eu estava a mais de cem quilômetros por hora, em cima de uma moto. E essa é uma sensação maravilhosa, porque eu estava indo contra o vento, já que tudo é passageiro, até as flores do campo.

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