Houve um tempo em que me encaixei perfeitamente no estereótipo da “virgem de humanas”. Saí da faculdade de jornalismo sem tatuagens, piercings ou mesmo uma pitada de rebeldia. Não experimentei cigarros, não me envolvi com mulheres, nunca mudei drasticamente meu cabelo, e me prendi a ser a nerd exemplar. Eu era a filha dedicada, ansiosa por notas altas, mas parece que não vivi plenamente minha juventude.
Hoje, já adulta e caminhando para os 30 anos, finalmente começo a explorar o que significa viver verdadeiramente. E então, 2023 surgiu como um capítulo transformador. Decidi abraçar o lema do filme “Sim, Senhor” e dizer mais “sim” para a vida. Foi um ano repleto de descobertas e momentos inusitados. 2023 foi o ano em que decidi que era hora de dar um novo rumo para minha vida.
E teve também aquela “quase” história de quase casamento. Uma situação cômica que ainda rende risadas. Conheci alguém no Tinder, um rapaz que, nos primeiros encontros, proferiu palavras de amor. Fiquei entediada rapidamente, mas por insistência alheia, dei mais uma chance. Ele me apresentou à família no segundo encontro e me chamou de “namorada”. Surreal, não é mesmo? Eu disse que só seria namoro se ele me pedisse. E eis que, no terceiro encontro, ele me pede em namoro com um anel, num prazo de 10 dias desde que nos conhecemos. Um surto total que durou apenas um mês, graças à sua inconveniência e à química nula entre nós.
Ah, e aquela primeira vez na casa de swing? Foi libertador! Vestida em um lindo vestido preto e com a desculpa de ir ao cinema com um amigo, me vi nervosa, como se estivesse cometendo um crime. No entanto, foi uma das melhores festas que já experimentei, uma descoberta que me fez refletir profundamente sobre quem eu realmente sou. Lembro-me da primeira vez. Aquilo que tanto me aterrorizava revelou-se como uma festa comum, longe dos estigmas que criamos em nossa mente. Dançar, pular na piscina, tomar alguns drinks e ter ficar com alguém foi um dos primeiros momentos de furar a bolha.
E, claro, houve um episódio clichê de encontrar alguém, aquele tipo de cara que não fazia parte do meu “padrão”. Atraída por um tipo diferente de homem, um bonitão alto, acabei confrontando sentimentos contraditórios de atração, raiva e desconforto. Percebi que talvez eu não fosse interessante para esse tipo de pessoa, uma lição valiosa sobre superficialidade e o que realmente importa em uma conexão.
Mas a aventura mais marcante talvez tenha sido minha viagem solo ao Rio de Janeiro. Minha primeira viagem solo, enfrentando um verdadeiro caos com um show cancelado, calor extremo, chuva forte e até um episódio de arrastão próximo ao estádio. Um misto de trauma e liberdade culminou na coragem de fazer não uma, mas duas tatuagens, rompendo finalmente com a persona da “virgem de humanas”. Uma viagem transformadora que me ensinou que se sobrevivo ao Rio, enfrento qualquer desafio.
No final deste ano, uma reflexão ecoa: fiz algo verdadeiramente útil? Uma sensação de culpa se instala por ter vivido tanto, por ter tirado tempo para mim. Mas sim, fiz cursos, extensão, consegui bolsas de estudo, trabalhei e cresci. Este foi o ano em que minha carreira não definiu toda a minha existência. Descobri que sou mais do que uma jornalista, mais do que um rótulo profissional.
E agora, diante dessas experiências, finalmente começo a compreender que viver a vida com intensidade não tem prazo de validade. Foi um ano de coragem para romper com o casulo, descobrir o mundo além do que me era esperado. Às vezes, é preciso quebrar a rotina para nos encontrarmos. Este foi o ano em que me libertei das amarras do que “deveria” ser e comecei a abraçar o que sou, sem filtros ou limitações preestabelecidas. A jornada continua, e agora, finalmente, estou genuinamente pronta para viver.