Sucesso na novela “O Mar do Sertão”, o ator Bruno Debeux tem encantado o publico ao interpretar o multifacetado personagem Savinho, parceiro de cena de Theresa Fonseca na novela, e que diante do casamento da amada, parte em busca de um novo amor.
Bruno já marcou presença nas novelas “Salve-se quem Puder” (2021), “Orgulho e Paixão” e “Deus Salve o Rei” (2018), “Babilônia” (2015), “Malhação” (2012) e “Amor à Vida” e “Geração Brasil”, “Em Família” (2014), “Insensato coração” (2011), “Duas Caras” (2007), todas na emissora carioca, participou da série “Segredos Médicos”, do Multishow, e ao lado de Gisele Mirabai, apresentou e codirigiu o programa “E Se Eu Fosse…”, filmado na Índia e Oman.
No teatro, atuou em espetáculos como “Doce Pássaro da Juventude”, “Febril” (adaptação de O Idiota, de Dostoièvski), “Escravas do Amor”, e “Tempo de Solidão”. Em 2021, estreou o primeiro projeto idealizado por ele, “Amores Flácidos”, contemplado pela Aldir Blanc, onde interpretou Aroldo, um serial killer de mulheres gordas. Por conta da pandemia, o espetáculo foi adaptado para um formato híbrido, entre teatro e cinema, batizado pela equipe de peça metragem e apresentado no canal do YouTube “Amores Flácidos”.
Já no cinema, estrelou os longas “Antes Que Eu Me Esqueça”, “Estado de exceção”, “Rio Sex Comedy”, “Garotas”, “Para Sempre Nunca Mais”, pelo qual foi indicado na categoria de melhor ator, no Los Angeles Brazilian Film Festival, e no Boston International Film Festival. Também, como apresentador, esteve à frente do Alternativa Saúde, do GNT, ao lado da atriz Patricya Travassos. Confira a entrevista!
Já em reta final, a novela “O Mar do Sertão” foi o projeto responsável por marcar o seu retorno na televisão desde “Salvem-se Quem Puder” em 2021. Como estão suas expectativas para o final da novela e como foi participar do projeto?
As expectativas para o final da novela estão altas. Recebemos o comentário de que os últimos episódios estão um estouro. Os dois últimos capítulos da trama estão guardados a sete chaves, nem equipe e nem elenco vão recebê-los completos. Cada ator e atriz tem recebido avulso apenas suas cenas secretas, separadas, e ninguém pode dar spoiler para os coleguinhas (risos).
Participar desse projeto foi certamente um marco na minha carreira. Nunca tinha trabalhado com uma direção, equipe e elenco em meio a tanta harmonia, entrosamento, leveza e amor. E isso não sou só eu que sinto, o próprio José de Abreu, que tem inúmeras novelas na trajetória, nos confessou isso.
Realmente foi uma constelação do universo muito linda que se formou, daqueles encontros mágicos, únicos que acontecem na vida. A sensação é de que somos uma grande trupe de teatro cheia de afeto, cumplicidade e que respira a melhor coxia entre os bastidores. Acredito que essa química amorosa chegou no público e foi um ingrediente importante para o fenômeno, que é a novela no horário das seis.
Na novela, você está interpretando Savinho, um sertanejo bem humorado, brincalhão, convencido e ingênuo. Como foi o processo para encarnar esse personagem e o que o público pode absolver assistindo o Savinho na televisão?
Como sou pernambucano e Canta Pedra é uma cidade fictícia no interior do nordeste, o personagem foi ponte para aproveitar as referências da minha vida, resgatando memórias da minha infância e adolescência, situações e trejeitos da família e amigos da terrinha. Nesse resgate, viajei para Bezerros, no interior do Agreste de Pernambuco, e fiz um laboratório com os habitantes locais, trocando ideias e observando seus comportamentos. Foi oportunidade inclusive para rememorar várias expressões nordestinas do interior que também me inspiraram.
Tenho recebido feedbacks bem bacanas do público dizendo que se identificam com o fato de Savinho ser prestativo, desajeitado, e que apesar de certa timidez, se comunica muito pelo sorriso. As pessoas também têm se identificado com o fato de Savinho ficar bobão perto da pessoa amada, se derretendo todo e, ao mesmo tempo, se atrapalhando. Acho que é um personagem que comunica muita leveza, alegria e resgata a inocência do sertanejo, que reconhecemos cada vez menos num mundo atual, cheio de malícias.
Um dos grandes debates que sempre está em evidência é a xenofobia, um preconceito com quem é de outros país ou de regiões diferentes. A novela “Mar do Sertão” tem justamente essa passagem de ser ambientada no interior, mais precisamente, algumas cenas sendo feitas no Vale do Catimbau, localizado em Buíque, no Sertão de Pernambuco. Acredita que o sucesso que essas produções tem feito acaba auxiliando nas pessoas se tornarem mais livres do preconceito?
Acho que tudo que gera empatia nas pessoas, de alguma forma, opera no preconceito. Afinal, o que contém no preconceito? Algo que não pertence ao outro, que é diferente, que não se conhece e que assim gera repulsa. O subtexto muitas vezes é: “Desconheço, isso é diferente de mim, é estranho, então não é bom”. Então, quando temos uma obra tão bem recebida, em que as pessoas riem, se divertem, se identificam com as vivências dos personagens, isso abre novas pontes. Pontes, por exemplo, de uma nova ligação entre um habitante de uma região diferente, que tem um sotaque e costumes diversos, com uma pessoa de outras características, mas que foi unida pelo ‘se colocar no lugar do outro’, pelo compreender o outro, através de seu mundo interno e vai poder assim, quem sabe, começar a reconhecer os vastos valores positivos entre as diferenças.
Durante a trama da novela, o seu personagem nutriu um grande amor por Labibe, personagem interpretado pela atriz Theresa Fonseca, e que diante do casamento da amada, ele parte em busca de um novo amor. Como foi contracenar com a Theresa e qual foi a sua opinião sobre o trabalho do escritor Mario Teixeira ao produzir a novela?
Theresa é uma parceira de cena maravilhosa, muito generosa, disponível, com muita escuta. Além de um ser humano com uma delicadeza e gentileza admiráveis. Mário Teixeira tem uma habilidade incrível de trazer uma dinâmica, ritmo, criatividade e quebras de expectativas surpreendentes no seu texto. A sua trama emociona e ao mesmo tempo, diverte, ressignificando arquétipos com muita originalidade e sendo ambientada em um nordeste cheio de cores, vida e poesia. E como Mário passou sua infância no Nordeste, reconheço também muita coerência e veracidade nas imagens, personagens e vocabulários nordestinos, que ele cria e costura em sua escrita.
Apesar de ter sido indicado ao Los Angeles Brazilian Film Festival e o Boston International Film Festival, você já pensou em futuramente tentar uma carreira internacional?
Sim, é algo que tenho pensado a respeito ultimamente. Principalmente, agora que muitos trabalhos de casting depois da pandemia têm sido feitos por self-tape. Como tenho dupla cidadania, além de brasileiro também sou americano, e já tenho toda a papelada para poder trabalhar lá, tenho essa facilidade, além do inglês fluente.
Durante boa parte da sua vida, você foi criado em Recife e concidentemente, boa parte dos personagens da novela são de naturalidade nordestina. Como tem sido a responsabilidade de representar esse povo que cada vez mais tem passado por preconceitos e como é realizar essa união de culturas?
Sou muito grato e feliz também dentro dessa perspectiva da responsabilidade de representar nosso povo numa novela que tem quebrado tantos paradigmas. É a primeira vez que a dramaturgia da TV Globo conta com um elenco de maioria nordestina. É muito bom ver na novela atores nativos ocupando devidamente o lugar de personagens nordestinos e que são batalhadores, fortes e de todas as cores. Temos empresário de sucesso, advogado, médica, dentista, gerente de banco, personagens cheios de coragem, força, irreverência, presença de espírito e sede de viver. Exatamente como somos! Ao contrário, infelizmente, do imaginário ainda pejorativo e inferiorizado que, muitas vezes, as pessoas têm em relação às pessoas de nossa região. Mas acredito que junto com a novela estar sendo tão bem recebida, com tantas pessoas se identificando e testemunhando todos esses personagens nordestinos em ação, as barreiras vão se quebrando. A obra vai contribuindo para dissolver certas distorções de juízos. Sinto que Mar do Sertão veio num momento muito propício de contribuição para o empoderamento do nosso Nordeste.
Além dessa novela, você já esteve em outras produções da Rede Globo, tais como “Salve-se Quem Puder”, “Orgulho e Paixão”, “Amor à Vida”, “Malhação”, entre várias outras. Da sua carreira, qual acredita ter sido o personagem mais desafiador que teve que assumir?
No teatro e cinema tive personagens bem desafiadores para compor. Nessa trajetória da teledramaturgia, considero o trabalho em Malhação desafiador, pois ainda tinha pouca experiência na atuação no vídeo, então foi um momento de desbravar essa nova linguagem e de aproveitar para coletar muitos aprendizados.
O ano de 2021 se tornou bastante marcante pela estreia do projeto “Amores Flácidos”, contemplado pela Aldir Blanc, onde interpretou Aroldo, um serial killer de mulheres gordas, e que após a adaptação para o YouTube, acabou sendo selecionado para o Festival de Cinema Latino-Americano MIRA. Como surgiu o contexto desse serial killer e principal fazer essa conversão dos palcos para a internet?
“Amores Flácidos” é o projeto inaugural na minha carreira como ator-empreendedor, pois participei da idealização e do seu desenvolvimento desde a concepção até a execução.
Fazer personagens com psicopatias, ambiguidades, desvios, me atrai muito, estava, em 2018, pesquisando textos de teatro com personagens nessa pegada. Foi quando conheci Herton Gustavo Gratto, o autor do texto. Quando li, me apaixonei imediatamente porque além de ser o tipo de personagem que estava buscando, com muitas camadas e contradições internas, um dos temas principais da peça são a gordofobia, amores abusivos e medo de rejeição. A sincronicidade foi enorme porque também sou nutrólogo e a luta contra o estigma da obesidade é uma causa que me mobiliza muito.
Essa conversão dos palcos para a internet teve que acontecer porque fomos contemplados pelo edital de incentivo à cultura da Lei Aldir Blanc num momento histórico durante o auge da pandemia no Brasil e então, criamos um produto audiovisual com linguagem híbrida entre cinema e teatro, que foi exibido de forma online, no YouTube. Deu super certo, muitas visualizações, recebemos feedbacks muito felizes do público e também muitos depoimentos das pessoas refletindo sobre os temas da gordofobia e da atual falta de empatia e discriminação aos vários corpos diferentes na sociedade.
No momento, estamos em fase de captação de recursos para transformar Amores Flácidos na modalidade ao vivo, no palco, como foi originalmente concebido.
Além de ator, você participou do programa “Alternativa Saúde”, programa que foi exibido pela GNT, como apresentador ao lado da Patricya Travassos. Como foi dividir o programa com ela e apostar no projeto como host?
Foi uma experiência incrível. Aprendi muito com a Patricya, sempre muito generosa, bem humorada e de uma sabedoria admirável. E foi o momento em que me descobri também como apresentador e de que gosto bastante também desse formato. É um trabalho que temos a oportunidade de se comunicar e ser ponte de muitas trocas com um grande público, através de um diálogo direto pelas lentes.
Acompanhe Bruno Dubeux no Instagram
*Com Luca Moreira