Projeto Rivera fala sobre nova fase na carreira e relembra momentos

Projeto Rivera deu o ponta pé de partida na carreira musical no ano de 2013, em Fortaleza. Com influencias de MPB e Rock Alternativo, a Banda produz um material audiovisual diferente e único. O grupo promete ainda três lançamentos musicais para este ano, a novidade vai sair em todas as plataformas, que possui assinatura de uma grande gravadora, show na cidade Fortaleza-Ce e em breve turnê pelo país.

Victor Caliope, vocalista da banda, fala nessa entrevista sobre o crescimento da banda, o sucesso da canção Varanda, a apresentação no Rock in Rio de 2017, entre outros assuntos. Com as novidades que estão por vim, a essência será a mesma, mais o modo de fazer não, a estética sonora entrega algo ainda não visto em bandas brazucas, arranjos, mixagens e toda a engenharia de som, tudo correspondente às novas tecnologias sonoras (graves, loundness e efects). A banda está com um material para lançar ainda esse ano com volta aos palcos confirmada para Novembro o primeiro single a se chama “Tudo bem”. Confira:

‘Eu quero mais sorriso, quero ter um corpo leve e não só querer que o carro me leve’ Varanda retrata a visão de depressão, tanto pela letra quanto as pessoas vendadas no clipe, está letra vivencia a depressão de algum membro da banda ou alguém próximo?

É tudo sobre se expressar, sobre se permitir expressar. Permitir-se demonstrar sentimentos. É sobre amenizar e, de alguma forma, ajudar a gente a responder perguntas sobre o que a gente está fazendo aqui. ‘Quem sou eu? O que eu quero? O que é bom para mim? Onde eu sou útil nessa vida?’ Então, tipo, “Varanda” é muito sobre um despertar. Sobre sair ali de um piloto automático. Ela traz muita observação da rotina. Daquela vida que está sempre ali programada e, às vezes, a gente acha que essa vida é tudo e, às vezes, é para sempre. O problema é a gente achar que esse problema é tudo e que tudo vai acabar. Isso consome a gente, machuca a gente, às vezes adoece a gente, sendo que essa música tenta levar quem está escutando… Eu nem fico pensando nisso, mas pelo menos eu tentei expressar algo muito maior, algo muito mais que isso. Sabe, às vezes, o problema da gente é grande dentro de uma visão de muito, muito pequena. E, às vezes, é sobre entender que todo mundo, o tempo todo, nada é tão certo. Nada é tão seguro. E que às vezes, olhar um pouco, se expressar um pouco ali, um pouco para os lados, observar algo que está além da sua própria vida, além do seu próprio mundo, pode ser muito bom.

É muito bom olhar para dentro. Mas é muito bom olhar para fora também. Então “Varanda” traz muito esse aconchego de olhar para o outro e conseguir ver coisas no outro, que às vezes você não consegue ver em você e se conectar com outro. E não só pelo que você está vendo, aquilo que você está sentindo. Ela traz muito isso Ela traz uma conectividade. Ela traz essa parada de que as coisas vão melhorar, as coisas vão mudar. Você vai alcançar e sobre o fato de que se expresse! O mundo, não vai acabar! Você não está no fim. Não é o fim ainda, não terminou. Então, eu acho que sim, ela complementa muito essa pauta, sobre a depressão. Porque tem alguns sintomas que tem que se relacionar a isso. Mas eu acho que não tão especificamente. Eu acho que às vezes ela consegue, sei lá, trazer um pouco de resposta, questões existenciais, para essas pessoas.

É muito de tirar dessa zona de certeza, medo de mostrar. Calma! Tem muitos caminhos, tem muita coisa para vir. O tempo também transforma. Olha para os seus lados, se desconcentra um pouco de si, solta um pouco essas coisas e tenta observar. Olha para fora, e veja como tudo muda, nada tem controle e é muito isso ‘mergulhei no mar da vida e nadei por amor. Tão cansado, tão doente.
E hoje sinto areia entre os dedos dos meus pés’ . É disso, eu me machuquei, eu sofri, eu continuei e estou aqui e estou feliz.

Por um ponto a letra parece triste, mas a melodia faz querer pular. Poderia até dizer que representa a cura da depressão e poder ver o sol de novo. Se fosse uma batida lenta, a música realmente teria um tom depressivo, mas a batida rápida faz vibrar. Desde do começo essa era a ideia de Varanda? Ser uma música que faz pular mesmo com a letra?

Apesar de ter alguns transtornos, algumas questões de neura divergência, dentro do grupo, um indivíduo, a gente quando fazia as coisas juntos, que a gente conseguia ficar feliz. A gente conseguia ficar bem. A coletividade do grupo por mais que fosse muitas das vezes exaustiva, às vezes um pouco estressante, cansativo, por conta de programação, por conta de concessões, que a gente tem que fazer na nossa vida para a gente poder manter os nossos objetivos e tal. Era muito prazeroso manifestar isso tudo em cima do palco, dentro do estúdio. Era como se fosse o ‘Nosso Grito’

Sempre teve esse sentimento. Já aconteceu muitas vezes de a gente se encontrar e um não estar bem ou todos não estarem bem. Em algum momento a gente sai de lá do nosso encontro, da nossa reunião, sai do estúdio sorrindo, feliz, positivo. Porque eu acho que o grupo sempre foi muito conversor de energia para gente. Às vezes a gente estava bem mal, mas a música parecia uma saída para isso, tocar, cantar. Mostrar isso para as pessoas, parece algo que trazia sem sentido. Quando nada mais fazer sentido para a gente na nossa vida pessoal de cada um. Falo isso pela experiência que a gente teve como grupo. Parecia que a música chegava para dizer ”Não! O caminho é esse, é assim, Vai por aqui’ parece que isso curava a gente de alguma forma. Então, toda vez que a gente acaba fazendo algo muito energético, muito forte, por conta de estarmos juntos, estar junto sempre foi um motivo para a gente ficar acelerado. Que a gente sai da nossa zona, deixava os problemas um pouco de lado e sonhava. Quando a gente faz isso junto a gente fica muito feliz.

Eu acho que o ritmo das músicas, o ritmo de “Varanda”, a energia que ela passa, mesmo com a letra reflexiva, ela carrega muito disso. Da polaridade das coisas, quando você sai da sua zona de solidão. Quando você troca sentimento, quando você fala as coisas que você sente, quando você traduz isso. Sobre tirar coisas de dentro. É muito doido, porque é realmente isso. Todas as letras, a gente tem umas bem reflexivas. Se não fosse tão acelerado, se não fosse com toda essa pegada, toda essa pegada de banda de guitarra, de bateria, realmente seria bem mais denso. Mas o objetivo é encontrar, eu acho, que a gente sempre naturalmente encontre o equilíbrio. A gente consegue equilibrar bem e fazer trabalho que consiga tocar, de falar o que a gente estava sentindo, mas ao mesmo tempo que chegasse com a energia, que fizesse bem como aquilo estava fazendo bem para a gente. Então ela tem essa energia porque a gente estava muito feliz fazendo ela e tipo cada música que tem uma singularidade em relação a isso.

Então eu acho que ela traduz o que é a força de um grupo. Um grupo que tem um outro ali para continuar acreditando. Para continuar confiando. Porque, pode se sentir fraco sozinho, pode juntar quatro pessoas e se sentirem fracas. Mas tem hora que você sente que você tem apoio. Isso, faz com que a gente se sinta mais seguro e que consiga resgatar um pouco mais de confiança. É quase um culto.

Vocês iniciaram em Fortaleza e agora viajam pelo Brasil fazendo shows. Em qual cidade a uma recepção maior do público? E em qual cidade vocês se surpreenderam com uma grande recepção no show?

Sem dúvida foi São Paulo, a maior recepção que a gente teve. Hoje, é o nosso maior público. Tanto seguindo os dados, que a gente tem através das plataformas de streamings, que mostra as localidades onde a gente é mais ouvido e que é bem maior do que o público de Fortaleza. Eu acho que as pessoas se conectaram bem rápido, com o nosso som. Eu acho que em Fortaleza a gente tem um público muito grande. É um público muito presente também, mas eu sinto que São Paulo foi uma coisa que a gente não esperava. A gente esperava, mas a gente não achou que seria tão intenso assim, tão intenso quanto na nossa cidade, no volume muito maior. Mas a cidade que mais impressionou mesmo, que surpreendeu a gente, foi Juazeiro do Norte que é dentro do Ceará. Antes da gente ir, quando não tinha tanta experiência assim de sair e tocar fora da nossa cidade, quando a gente estava no comecinho. Surgiu uma oportunidade de ir para lá e, de repente a gente chega a Juazeiro do Norte, tem uma sala esgotada. E todas as vezes que a gente foi para lá foi assim.

Foi sempre surpreendente e é uma cidade dentro do Ceará, no qual a gente não tinha tanta experiência em relação a tocar. Não tinha noção de como é que era a cena lá e quando fomos, não paramos mais de ir. A gente hoje tem um relacionamento muito gostoso com a cidade, tanto quanto com os artistas da cidade. E essa foi a parte mais surpreendente, porque a gente não esperava, que tanta gente conhecesse, ou que a gente conseguiria fazer esses shows tão lotados quanto aqui na capital. Na cidade em que surgimos. Então, São Paulo, Juazeiro do Norte, foram incríveis. A surpresa foi o Juazeiro, mas de dimensão de público e de recepção foi em São Paulo.

“A estrada me fez conhecer o que eu imaginava não saber/ O que eu entendia como certo/ Hoje é de se duvidar” A música foi inspira nas viagens e experiências pelo Ceará, conhecer o que imaginava não saber, seria uma forma de destacar o amadurecimento da banda? Quais os ensinamentos que as viagens trouxeram para vocês?

Sobre ser o processo de amadurecimento, sim, mas não como processo de amadurecimento do grupo, mas processo de amadurecimento individual. Como indivíduo cearense. Que tem uma história, que tem origem, que tem uma cultura muito grande, e até então a gente sempre foi os garotos da capital, da cidade de Fortaleza. A gente já tinha algumas pequenas experiências nos interiores do Ceará, mas a gente não tinha uma ótica, que a gente passou a ter nesse momento, onde éramos adultos, a gente já trabalhava e tinha responsabilidade de um adulto comum e foi nesse período que a gente conseguiu observar coisas que, muitas vezes, quando éramos crianças, não conseguimos observar. Então, quando a gente começou a viajar muito pelo interior do Ceará, não só para tocar, mas a gente trabalhava junto em uma empresa vendendo plano de telefonia. A gente inventou de trabalhar todo mundo junto e começamos a compor na estrada. Foi aí que começou a banda, assim basicamente, um trabalhava numa empresa, era muito bem-posicionado na empresa. E ele era o líder de equipe, montando a equipe, montou a equipe com os membros da banda. Então tivemos essa experiência junto. A gente aprendeu mais de onde a gente veio. Nos nossos traços, muito do que a gente viveu na cidade, como modo de falar, como algumas histórias.

Chegava sem muita vivência, então quando a gente começou a viajar pelo interior do Ceará, a gente começou a entender que Fortaleza nasceu basicamente da cultura que existe até hoje no interior. Então, muitos dizeres, a forma de se comunicar com ritmo pacato da cidade. Sobre a idealização e tal, sobre esses valores mais tradicionais da nossa cultura que ainda esta muito vivo lá. Então, quando saímos da capital e tínhamos essas experiências, era extremamente reveladoras para nós, porque parecia que a gente estava, conhecendo a origem dos nossos pais, dos nossos avós. Fortaleza é uma cidade muito grande, mas é ao longo do tempo Fortaleza foi formada, por pessoas que vieram de diversos pontos do Ceará, desde áreas bem limitadas em relação a: geografia, alimentação, clima, tudo. Então, isso foi um processo muito imersivo. Individualmente, como nordestino. Entender melhor o que é ser nordestino. Saber um pouco mais sobre a nossa origem e conseguir trazer mais isso para o nosso som. Porque, nesse momento a gente já se sentia proprietário, parte disso. Filho de tudo isso.

Então foi aí, com essas experiências, que a gente começou a trazer esses traços para nossa música de uma forma muito espontânea. A partir dessas vivências que foram extremamente importantes para a gente poder transformar a Rivera no que ela é hoje. Ter essa poesia embutida, ter esse aspecto. De ser uma banda que tem seu valor Regional.

Uma banda de Fortaleza ter a oportunidade de tocar no Rock in Rio é um grande feito. Vocês foram a banda ganhadora do concurso Doritos e fizeram um show em 2017 na cidade do Rock. Como foi esse concurso? A preparação para este show foi mais trabalhosa do que costuma ser?

Foi incrível, porque a primeira vez que a gente teve oportunidade de ir e dar um rolê no festival desse porte. Até então, os festivais que íamos ficava na nossa cidade e não chegavam ser festivais tão grandes quanto o Rock in Rio. Eram festivais menores, de pequeno porte e já era uma coisa bem grande para gente. Estar no Rock in Rio foi uma coisa muito surreal, porque a gente viu como aquilo era grande, como aquilo dava certo ou como uma música era tão valorizada, o quanto as marcas, tinham interesse nisso e como a música era um grande negócio. A gente começou a ver que a coisa realmente era bem maior do que éramos acostumados. Então, foi uma experiência incrível, porque teve famosos assistindo nosso show. Tipo o Flávio (guitarrista) cutucou no braço no intervalo de música para o outro, falou assim “Tu viu a Bruna Marquezine? Ela pulou no ‘Canto Bom’ inteiro. Ela, o Surita, Silvero Pereira, a galera da Globo!”, isso foi muito engraçado. Porque eu estava tão emocionado, eufórico, que não estava reconhecendo ninguém, mas o Flávio é muito atento. Ele observa e presta atenção em tudo. Essa experiência foi muito louca. Eu também cantei com o Digão, ele cantou uma música com a gente, do Raimundos, isso foi muito louco. Porque foi um cara que faz parte assim da minha infância/adolescência. Como o cara da banda de rock do Brasil, entre outros e outros, né? Mas, para mim, foi uma situação isolada muito engraçada.

Fiquei muito feliz. Para mim foi algo grandioso. Para quem veio do outro lado. Para quem era simplesmente uma pessoa que assistia e via as bandas e era fã… De repente estar no palco, fazer parte de uma cena tão grande… Isso foi muito incrível e foi massa. Mas a gente estava tão emocionado, que eu nem sei, eu nem sei explicar muito bem. Foi tudo muito emocionante.

Ao abrir seu Instagram deparamos com a frase: “nosso som vai te fazer bem”. Isso sem dúvidas é um sentimento que a letra das suas músicas transmite, leveza e prosperidade. Na sua opinião, as pessoas precisam ouvir um pouco mais de músicas que carregam essa vibe ?

‘Nosso som vai te fazer bem’, nossa é tudo que a gente escuta. Pessoas que gostam, que amam, nosso som, todas as pessoas que passaram pelo nosso caminho. Sempre trouxe esse mesmo papo de que o nosso som fazia bem e inspirava. Então, tudo que a gente fez sempre foi muito verdadeiro, eu acredito, talvez seja verdade e foi muito bem colocada a frase. Sobre se as pessoas que deveriam escutar mais músicas e artistas parecidos com a gente… Eu acho que sim e não. A gente ainda vive uma situação muito velada no Brasil, onde falar de sentimentos, falar de questões existenciais, é algo que fica muito em décimo plano. As pessoas só falam disso quando estão em situação de emergência. Acredito que o nosso som, ele traz um tipo de conforto para pessoas que estão passando por alguma dificuldade em algum momento da vida. Eu acho que traz a inspiração para pessoas que estão procurando meios de se expressar. Eu acho que nosso som traz algumas respostas para pessoas que estão querendo entender qual é o seu sentido na vida, na sociedade em que elas vivem. Eu acredito que o nosso som consegue trazer muita experiência bacana. Meio que às vezes até terapêutica e educativa. Mas a gente sabe que ao mesmo tempo a sociedade inteira não é baseada nisso. Então a gente tem, uma grande maioria de pessoas que não se conhecem tão bem, não sabem lidar com os próprios sentimentos, que não conhecem os próprios sentimentos, que ainda não encontrou talvez, uma resposta sobre o que quer fazer da vida.

Para onde quer levar a vida dela, sobre o que ela está sentindo. Vivemos assim no piloto automático. Da primeira música “Varanda”, eu sinto que muitas das vezes quando algumas pessoas chegam numa situação em que elas precisam se comunicar com isso, precisam entender mais isso, elas encontram o som da gente, o som de alguns artistas que tocam nesse assunto. Eu acho que é uma conexão muito forte, muito forte mesmo, mas a gente sabe que a grande maioria não é assim. Entendemos, a música como um produto de momento, de moda de consumo, de mercado… Tudo tem um significado. Eu acho que, se o nosso som for o que a pessoa precisa para aquele momento. Eu acho que ela precisa escutar. Agora se a pessoa também não estiver aberta, se ela não tiver um certo nível ali de sensibilidade, eu acho que ela vai escutar, vai entrar por um ouvido e sair pelo outro, talvez não seja o que esteja buscando naquele momento. Mas a gente sempre vai estar lá, talvez não seja o maior e nem o melhor, mas a gente sempre está lá.

Vocês já queriam voltar aos estúdios para começar a produzir o terceiro álbum, mas a pandemia adiou esse processo. Olhando por uma outra perspectiva, esse longo período, pode ter servido para amadurecer melhor a ideia desse novo projeto?

A gente tinha preparado e estava preparando, para o terceiro álbum antes da pandemia, foi ficando ao longo do caminho. Era algo mais sonhador, mais fantasia, mais romântico, mais poético. Mas, durante o processo de pandemia, foi um processo triste, mexeu com muita gente, teve uma hora realmente que não estava dando para manter acessibilidade 100% ativa. Porque, ficávamos muito aberto a dores, muito aberto à tristeza, ao medo. Então, pelo menos, não só para mim, mas eu sinto que para o grupo inteiro, todo tempo que a gente esteve se mantendo junto, conversando, trocando ideias… Foi um momento em que cada um procura se procurou fortalecer, como cuidar da saúde, do corpo, da autoestima, cuidar da própria imagem, adquirir ferramentas e se inserir mais na tecnologia e fazer parte dessa escalada. Eu acredito que a essência da Rivera ainda está toda nessas músicas novas, mas eu acredito que essas músicas novas têm muito mais sobre a projeção de um futuro, de uma sociedade futurista, do que basicamente é uma coisa que remeta a origem. É muito mais sobre para onde a gente vai, do que sobre de onde a gente veio ou quem a gente é. Ela é mais sobre o que a gente quer se tornar. Então, ele é bem mais ousado.

Ele tem uma abordagem de algumas situações que trata muito, um toque romântico sobre as relações passageiras, mais charmoso, mais maduro, relações evoluídas. Ele tem muito mais a ver com agora e com os próximos anos. Tem muito a ver com os espaços que a gente está ocupando com o nosso privilégio, como a gente vive, e a gente percebeu que ele já não é um álbum tão inteligente quanto os dois últimos. Porque, ele é um álbum mais sobre amor, um pouco mais vaidoso, mais destemido, mais ousado, mais rock, mais atitude, mais provocativo. Então, acho que essa parte encantada e passiva que a gente meio que estava tentando trazer para o terceiro álbum ficou no meio do caminho, porque percebemos que não dava para levar isso no mundo, que estamos nos preparando para ver hoje. Tem sons e tem estética, tem coisas que inspiram e ele é mais ou menos isso, de segurar as pontas, fechar a cara botar uns óculos escuros e segue… Ele é bem assim. Ele é bem assim, sobre ”Realize seus sonhos e vá, cuide de você, cuide dos seus desejos e mostre que você é um gostosos”. E a gente também está entendendo que hoje em dia, tem artistas que tem uma representatividade muito maior.

Que trazem na sua música pautas e sobre experiências de minorias que complementam muito o trabalho que a gente começou de alguma forma, conseguindo ter visibilidade e tem muito mais propriedade e “responsa” para falar na linguagem que é a realidade de cada um. Então, a nossa abordagem hoje está bem nessa pegada. Estamos tentando exatamente no que a gente tem, no que a gente vive, no que a gente quer e no nosso espaço dentro da sociedade moderna.

Quando vocês falam de sair do casulo, da a entender que houve um processo de mudança muito significativo para o grupo. Como foi para a Rivera fazer essa filtragem buscando chegar a um equilíbrio de gênero sonoro?

Eu acho que casulo, na verdade é Rivera, né? Eu acho que a saímos da Rivera nesse período. A nossa relação foi mais de pessoas que se gostam, de manos que se conheceram por causa de desejos comuns. A gente era emo, a gente era jovem e a gente gostava de fazer coisas e viver coisas que na época da Rivera a gente já tinha mudado bastante. Então, acho que nesse momento de isolamento cada um teve oportunidade de ter um processo muito individual, de se reconectar com essa força jovem que está dentro da gente. Que fez a gente entrar na música. Eu acho que é mais uma regressão do que uma evolução. Não que regressão seja uma coisa ruim, mas eu acho que é mais um resgate de quem a gente deixou para trás depois que a Rivera começou. Então traz muito esse espírito. Esse espírito de quando a gente se encontrou, essa energia das coisas que a gente gostava antes mesmo de ser considerado artistas. Antes da gente tocar. Então, traz muita referência das músicas das bandas que a gente gostava, que a gente escutava para caramba antes de achar que um dia a gente poderia ser artista e tocar para as pessoas. Foi muito bom, porque esse período que a gente parou, no meio desse caos todo. A gente focou nos desejos pessoais, pensando que tudo isso passa muito rápido e a gente tem que realizar todos os nossos desejos. Então, eu acho que todos esses sons, eles são bem ambiciosos e eles têm estética, eles são mais vaidosos, eles têm alguns desejos que estão na gente. Eu não sei se literalmente é um equilíbrio, porque, tudo que a gente reproduz acaba tendo um equilíbrio de uma forma e tal, mas eu acho que tem muito caos. Eu acho que o caos está muito presente, aceitando, lidando e surfando toda essa bad. Eu tenho uma sensação de que eu estou muito mais hoje nas composições.

As coisas que eu penso, as coisas que eu vivo, a referência das coisas que eu escuto. Eu escuto muito rap, muita música eletrônica, músicas asiáticas, russa, alemã, japonesa também, todo mundo da Banda tem um toque Geek, todo mundo da banda meio que é otaku, desde muito tempo. E, isso eu acho que está muito mais globalizado, muito mais a ver com tudo aquilo que construiu a nossa adolescência. Que a gente deixou de lado um pouquinho para descobrir a nossa identidade. Então, acho que ele está mais universal, mais globalizado, mais tecnológico, abordando relações das formas mais modernas. Está charmoso e um tanto melancólico também. Mas, com a estética legal, triste e gostoso.

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Parceria: Luca MoreiraLetícia Cleto e Affonso Tavares

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